sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Igreja perseguida...

Muitas pessoas se espantam com o crescimento vertiginoso que a Igreja perseguida tem experimentado por todo o mundo. De fato, os números assombram em muitos países.

Na China, por exemplo, no final de década de 1960, havia cerca de quatro milhões de cristãos. Após a perseguição atingir o auge, durante o período da Revolução Cultural, quando muitos pastores e cristãos foram presos, mortos, torturados, interrogados e tiveram suas igrejas fechadas, algo de espantoso ocorreu: um avivamento varreu o país e, em menos de 40 anos, a Igreja chinesa já ultrapassou a marca de 100 milhões de cristãos.

Alguns pesquisadores dizem que todos os anos são abertas cerca de 600 mil novas igrejas não oficiais na China e o evangelismo pessoal feito pelos cristãos gera dois milhões de novos convertidos por ano. Ainda assim, a Igreja chinesa tem sido severamente perseguida e os cristãos sofrem diariamente com as diversas restrições impostas pelo governo.

Isso aconteceu de modo semelhante no Irã, onde fontes locais afirmam que o número de cristãos no país saltou de apenas 500 cristãos evangélicos em 1979, ápice da Revolução Islâmica, para pelo menos 100 mil nos dias atuais. Durante esses mais de 30 anos, a igreja iraniana cresceu muito, mas paralelamente ao crescimento, houve um aumento terrível da perseguição.

O próprio presidente Mahmoud Ahmadinejad teria dito que seu governo precisa interromper o crescimento das igrejas não oficiais em todo o país.  Para fazer isso, ele tem se empenhado em descobrir os líderes do movimento e prender muçulmanos que têm cometido apostasia, ou seja, deixado o islamismo para se tornarem cristãos.

Até as igrejas ligadas às minorias étnicas, como a armênia e a assíria, sofrem em meio a essa situação. Elas possuem autorização para ministrar a seu povo em sua própria língua, mas são totalmente proibidas de ministrar para qualquer pessoa de origem muçulmana. A despeito do difícil cenário, os cristãos iranianos dizem que a estimativa real do tamanho da Igreja é de cerca de 450 mil pessoas espalhadas por todo o país.

Então, ao nos depararmos com essas duas realidades tão difíceis, como entender o enorme crescimento? O segredo da Igreja Perseguida é que ela entendeu o que é ser Igreja.

A palavra utilizada na língua original do Novo Testamento para igreja é ekklesia, que significa literalmente “assembléia dos chamados para fora”. Na verdade, ela é a junção da preposição grega “ek”, que significa “fora de”, com o substantivo “kaleo” que quer dizer “chamado”. Com o passar do tempo, esses termos originaram a palavra “igreja”, que costumeiramente vemos no Novo Testamento.

Isso significa que a Igreja é um conjunto de pessoas que foram chamadas por Deus para anunciar ao mundo a mensagem que receberam. Partindo desse conceito, duas lições são muito importantes de ser entendidas: 1. A Igreja é formada por pessoas e é voltada para pessoas e 2. A Igreja tem a missão de proclamar a mensagem de Deus.

E é exatamente isso que a Igreja Perseguida tem feito. Como o que importa são as pessoas e não os templos ou as estruturas eclesiásticas formais, ela adotou modelos de igrejas diferentes para cada contexto cultural, para cada conjunto de restrições impostas pelo governo ou pelos sistemas religiosos, ou para cada circunstância de perseguição da própria sociedade.
Batismos Secretos

Na China, como as igrejas evangélicas são completamente ilegais, em um primeiro momento os cristãos passaram a se reunir em cavernas, fábricas, montanhas, e outros lugares que jamais imaginaríamos. Em um segundo momento, eles redescobriram o papel das estruturas familiares e dos cultos nos lares – e foi aí que houve o grande despertamento. Por meio das igrejas domésticas – como são conhecidas por muitos – a igreja chinesa ultrapassou todas as expectativas e cresceu 30 vezes o seu tamanho em pouco mais de 40 anos.

A Igreja na China tem de ser criativa e se preocupar com seus membros, por isso até mesmo os batismos são feitos de maneira diferente da que estamos acostumados. O Correspondente Local Itamar Rodrigues, de São Paulo, esteve em uma viagem à China em 2010 pelo Sem Fronteiras, ministério de viagens da Portas Abertas, e ouviu os relatos de um dos pastores de uma das maiores igrejas não oficiais do país. Ele disse ao cristão brasileiro: “Nós realizamos batismo duas vezes por ano. No mês de julho, estamos no verão e por isso, eu vou para um rio, que muda a cada ano, e fico esperando os batizandos na água. Eles chegam em um ônibus e, um por um, descem, entram na água, são batizados e voltam correndo para o ônibus. Passo o dia inteiro batizando centenas de pessoas que chegam e vão embora. Em janeiro, estamos no inverno, portanto, fazemos os batismos nas casas. Os batizandos chegam como se fossem visitantes e são imersos nas banheiras. Nós batizamos duas mil pessoas por ano”. Itamar pode ver fotos dos batismos e ver os rostos daqueles cristãos que estão dispostos a enfrentar tudo para cumprir os propósitos da Igreja.

No Irã, devido à forte perseguição, os muçulmanos que se converteram ao longo dos anos entenderam que têm de cuidar uns dos outros, já que a maioria deles levam uma vida secreta e está sempre correndo o risco de serem mortos pela própria família, ou pelos agentes secretos do governo. Essa caminhada de discipulado pessoal levou a Igreja iraniana a dar muitos frutos. O crescimento dessa Igreja, em cerca de 30 anos, foi de 900 vezes o seu tamanho inicial.

Um exemplo clássico é o pastor iraniano Haik Hovsepian, assassinado em 1994. Ele era conhecido por todo o país pelo seu coração voltado para as pessoas. Como presidente das Assembléia de Deus no Irã, esforçava-se para estar sempre com as igrejas e pastores que mais necessitavam de ajuda e que mais sofriam. Às vezes, viajava diversas horas em meio à neve para estar em cultos domésticos com muçulmanos convertidos nos lugares mais distantes do país. E Haik foi assassinado justamente porque havia levantado sua voz contra a sentença de morte que um pastor muçulmano, chamado Mehdi Dibaj, recebera do governo iraniano.

Esses são apenas alguns dos testemunhos de como a Igreja Perseguida entendeu o verdadeiro sentido de ser Igreja, mas essa não é uma realidade exclusiva dela. Em muitos lugares do mundo, temos visto comunidades de cristãos se levantarem em prol da edificação de seus membros e da proclamação do evangelho, adotando modelos diferenciados de Igreja para grupos nunca antes alcançados.

O grande desafio que temos hoje como cristãos brasileiros é: a partir da Palavra de Deus, entender o que é a Igreja e qual é o seu papel neste mundo, assim como viver tudo aquilo que o Senhor espera que vivamos. E ao observar a realidade da Igreja Perseguida e seu crescimento, vendo o que muitas comunidades têm feito ao redor do mundo em países livres, percebemos que é possível alcançar os propósitos de Deus para sua Igreja.

Fonte: Revista Portas Abertas

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